Sobre o Tratamento
Aos Pais de Crianças com Pé Torto
A maioria dos pés tortos podem ser corrigidos ainda quando bebês em seis a oito semanas com manipulações adequadas e aplicação de gesso. O tratamento é baseado no entendimento da anatomia funcional do pé e da resposta biológica de músculos, ligamentos e ossos às alterações de posicionamento obtidas pelas manipulações seriadas e aplicação de gesso.
Menos de 5% das crianças nascidas com pé torto têm pés rígidos, encurtados e graves com ligamentos rígidos, que não cedem ao alongamento. Essas crianças precisam de correção cirúrgica. Os resultados são melhores se a extensa liberação de partes moles e óssea puder ser evitada. A cirurgia no pé torto, mais utilizada nos anos 90, é invariavelmente seguida de formação de tecido fibroso cicatricial, cicatrizes e fraqueza muscular, que se tornam mais graves e limitantes após a adolescência.
Com tratamento, os tecidos que formam os ligamentos, cápsulas articulares e tendões são alongados com manipulações cuidadosas semanais. Um gesso é aplicado após cada sessão semanal para manter a correção e o alongamento obtidos. Assim, os ossos são gradualmente trazidos para o alinhamento correto.
Cinco a sete gessos longos, da coxa ao pé, com os joelhos em ângulo reto são geralmente suficientes para corrigir a deformidade. Mesmo os pés mais rígidos requerem não mais que 8 ou 9 gessos para obtenção da correção máxima. Antes da aplicação do último gesso que é mantido por 3 semanas, o tendão de Achiles é geralmente cortado, num procedimento que pode ser realizado na própria clínica, sob anestesia local, para completar a correção do pé.
Quando o último gesso é removido, o tendão já se refez, no comprimento adequado. Depois de 2 meses de tratamento, os pés devem apresentar-se supercorrigidos.
Após a correção, a deformidade tende a recidivar. Para prevenir a recidiva, quando o último gesso é retirado, deve-se usar uma órtese tempo integral por três meses e depois apenas à noite até os 4 ou 5 anos de idade da criança.
A órtese consiste de uma barra (com o comprimento da distância entre os 2 ombros) com botinhas altas abertas na frente presas à barra com 70 graus de rotação externa. Uma tira de couro ou plastizote deve ser colada acima do calcanhar para impedir que os pés escorreguem para fora. A criança pode ficar desconfortável inicialmente quando tentar mover as pernas separadamente, mas logo aprende a mexer as duas pernas juntas e fica mais tranquilo. Em crianças com pé torto unilateral, o pé normal é fixado na botinha com 40 graus de rotação externa.
O exame radiográfico seriado geralmente não é necessário, porque além de não ter ocorrido ainda grande parte da ossificação do pé (ossos são ainda estruturas cartilaginosas) é possível palpar-se com os dedos a posição dos ossos e sentir-se o grau de correção. O mesmo não ocorre em casos complexos.
Quando a deformidade recidiva mesmo seguindo-se todos os cuidados, uma pequena cirurgia pode ser necessária após os 4 anos de idade. A cirurgia consiste em transferir o tendão do músculo tibial anterior mais lateralmente no pé.
Resultados insatisfatórios após manipulações e gessos para pés tortos em muitas clínicas indicam que as técnicas usadas são inadequadas. Sem a compreensão da anatomia e cinemática do pé normal e dos desvios ósseos do pé torto, a deformidade é difícil de ser corrigida. Manipulações errôneas e gessos comprometerão ainda mais a deformidade do pé torto, ao invés de corrigir, tornando o tratamento mais difícil ou impossível. Para maiores informações, acesse: